The Black Baloon


quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Transbordantes de rosas e abismos.”

Foi então que a vi. (…) E chorava, ela chorava. Sem escândalo, sem gemidos nem soluços, a prostituta na frente do bar chorava devagar, de verdade. A tinta da cara escorria com as lágrimas. Meio palhaça, chorava olhando a rua. Vez em quando, dava uma tragada no cigarro, um gole na cerveja. E continuava a chorar — exposta, imoral, escandalosa — sem se importar que a vissem sofrendo.
Eu vi. Ela não me viu. Não via ninguém, acho. Tão voltada para sua própria dor que estava, também, meio cega. Via pra dentro: charco, arame farpado, grades. Ninguém parou. Eu, também, não. Não era um espetáculo imperdível, não era uma dor reluzente de neon, não estava enquadrada ou decupada. Era uma dor sujinha como lençol usado por um mês, sem lavar, pobrinha como buraco na sola do sapato. Furo na meia, dente cariado. Dor sem glamour, de gente habitando aquela camada casca-grossa da vida.
(Caio Fernando Abreu. Pálpebras de neblina, in: Pequenas Epifanias)


“Tinha desejos violentos. pequenas gulas, urgências perigosas, enternecimentos melados, ódios virulentos, tesões insaciáveis. Ouvia canções lamentosas, bebia para despertar fantasmas distraídos, relia ou escrevia cartas apaixonadas, transbordantes de rosas e abismos.”


C.F

A gente precisa mesmo é aprender a ser feliz.

Guerras, pestes, são os tempos. Estou louco para cair fora deste vendaval contaminado que virou o planeta. Numa muito boa, invejo e admiro a vida nova que você inventou/conquistou. 
(Caio Fernando Abreu. Carta a Maria Lídia Magliani)
O tempo, de vento em vento, desmanchou o penteado arrumadinho de várias certezas que eu tinha, e algumas vezes descabelou completamente a minha alma. Mesmo que isso tenha me assustado muito aqui e ali, no somatório de tudo, foi graça, alívio e abertura. A gente não precisa de certezas estáticas. A gente precisa é aprender a manha de saber se reinventar. De se tornar manhã novíssima depois de cada longa noite escura. De duvidar até acreditar com o coração isento das crenças alheias. A gente precisa é saber criar espaço, não importa o tamanho dos apertos. A gente precisa é de um olhar fresco, que não envelhece, apesar de tudo o que já viu. É de um amor que não enruga, apesar das memórias todas na pele da alma. A gente precisa é deixar de ser sobrevivente para, finalmente, viver. A gente precisa mesmo é aprender a ser feliz.




Ana Jacomo

Publicar um texto é um jeito educado de dizer “me empresta seu peito porque a dor não tá cabendo só no meu”.

Fique feliz, fique bem feliz, fique bem claro, queira ser feliz. Você é muito lindo e eu tento te enviar a minha melhor vibração de axé. Mesmo que a gente se perca, não importa. Que tenha se transformado em passado antes de virar futuro. Mas que seja bom o que vier, para você, para mim. 
(Caio Fernando Abreu. Carta a Sérgio Keuchgerian)

E, assim que estiver inteira

Et voilá: sou também um pouco tolo, um pouco naive, um pouco pêra — e eternamente Bambi. Quando a barra pesa, compro flores e ouço Mozart (…)

(Caio Fernando Abreu. Carta a Guilherme de Almeida Prado)


Sei, como sempre soube desde que tomei noção de minha existência baseada em vôos com horas marcadas para quedas, que vou me estabacar em pedaços mais uma vez. E sei que os juntarei novamente, me jurando preservação. E, assim que estiver inteira, estarei novamente cheia de vontade de sair dando encontrões com o mundo.
Mas sei de uma coisa: meu caminho não sou eu, é outro, é os outros. Quando eu puder sentir plenamente o outro estarei salva e pensarei: eis o meu porto de chegada.




Clarice Lispector
Sem medo da morte, porque esta quase história pertence àquele tempo em que amor não matava.

(Caio Fernando Abreu. Saudades de Audrey Hepburn, in: Os dragões não conhecem o paraíso)
“O que tenho, nesse instante, é um sabor inédito de beijo, um novo número de celular para adicionar na minha agenda, uma cor de olhos que não sei definir com precisão, um corpo que se encaixa no meu e uma conversa que me mantém fascinada.”
- Martha Medeiros

“Ainda bem que sempre existe outro dia. E outros sonhos. E outros risos. E outras coisas.”

Después, foi até o banheiro, apanhou o batom ciclamen e riscou fuerte no espelho: Sally doesn’t live here anymore. Cheirou duas ou três carreiras e, antes de sair, ainda teve tempo de jogar contra os ladrilhos a velha seringa manchada de sangre.
(Caio Fernando Abreu. A verdadeira estória de Sally Can Dance and the Kids, in: Pedras de Calcutá.)

As coisas são como são

É uma coisa que me dói muito, esses seus silêncios.
(Caio Fernando Abreu - Carta a Hilda Hilst)
E quem diria. Quem diria. Ontem mesmo, conversando com vários amigos, eles me disseram que eu não mais parecia comigo. Eu pareço eu sim, mas vou ganhando o mundo quando abro algumas brechas da minha prisão. E de brecha, vou me ganhando também. E quase vira o estômago mas sou tomada por uma fome boa que eu nem sei o nome. Talvez acreditar assim, sem medo, em algo descontrolado e de alguma forma justo, seja acreditar em Deus. Durmo em paz. Tudo na hora certa. As coisas são como são.






Tati Bernardi
momentos-so-meus:

(Fernanda Mello)

Sempre...

É sábio arriscar alguns passos

Mas nada acontecia. Só restava tomar um táxi, dar o endereço, um livro nas mãos, comentar o tempo, a crise, espiar putas, michês, travestis pelas esquinas, vontade bandida que mal se esboça, depois a avenida reta, com luminoso de coca-cola, melita e galaxy, dobrar à esquerda, dobrar à direita, always in front of: reclamar, pagar, descer.
(Caio Fernando Abreu - Saudades de Audrey Hepburn, in: Os Dragões Não Conhecem O Paraíso)


Na dúvida, atirou.
Só depois que o suposto adversário caiu, percebeu que aquilo que ele carregava, aquilo que jurou ser uma arma ao olhar de longe, os olhos atrapalhados pelo nevoeiro da confusão, aquilo não era arma nenhuma.
Aquilo era só e era muito uma flor.
Antes de atirar e talvez ferir amores, é sábio arriscar alguns passos e deixar o coração chegar mais perto pra ver melhor. Pra ver além.
Muitas vezes, o único inimigo, a verdadeira ameaça que nos desafia por mais mentirosa que seja, é o nosso medo.



Ana Jacomo

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Como violão que desconhece a melodia.

Se você me amar e eu te amar, não precisamos da aprovação de ninguém para ficar juntos, como também não precisamos assinar nenhum papel ou aceitar qualquer espécie de jogo. Não acredito que maus fluidos, por mais fortes que sejam, consigam destruir um amor bonito, limpo. 
(Caio Fernando Abreu. Carta a Vera Antoun.)


Parecendo que o dia principiava uma ponta de nostalgia, mas já era um outro alguém chegando. A voz não tava clara, pressentimentos são confusos como violão que desconhece a melodia. Era como se precisasse elaborar antes de tudo, o sentimento que ela ia trazer, aquela voz. Então, ela determinou com a convicção de alguém que quer parar de beber, de sofrer, de fumar, de comer carne ou de qualquer coisa que incomode de algum jeito, que seria apenas saudável e recíproco. Tava cansada dos olhos afogados na ausência de um perfume ou de uma espécie de lirismo estúpido, como sempre.(Percebeu o final do sufoco na mudança do foco). O que o dia queria dela, trazendo as cores do olhar do passado? Não queria mais aquilo. Tava cansada. Ficou lembrando cenas que nem quis contar porque deu raiva. Que se assim o fim, melhor que assim o fosse. Mas sabia mesmo é que o verde que viria, reflorestaria aqueles olhos de imensas esperanças. Achou boa a sensação que a imagem trouxe e guardou num gesto: fez um movimento de mãos no ar e trouxe pro peito. Sorriu e calou. (E os olhos permeados do mistério bom).


Marla de Queiroz
Sonhei com você: estava triste e deitado numa cama desarrumada. Eu te olhava sem compaixão e você me olhava sem entender porque é que por você eu não podia, ou queria, fazer mais nada…
















Amor é aquilo que quando encontramos, parece que sempre esteve.

Quando a gente se abre mais, o outro vê fundo. E o fundo é quase sempre escuro e assusta. 
(Caio Fernando Abreu. Carta a Hilda Hilst)

O resto eu agradeço larga e profundamente…

Não consigo ser verdadeiro o tempo todo. Mas você me saca, eu sei. 
(Caio Fernando Abreu. Carta a Vera Antoun)
Estou segura de que existem tempo e surpresas suficientes para que as coisas tomem um rumo mais conveniente, ou pelo menos, justo. Eu me comprometi com o meu melhoramento e isto implica num escancaramento do peito pra enfrentar a vida com sensatez, sem exacerbar ou supervalorizar o desconforto. Então, eu amplio o meu coração para que a gratidão de poder cumprir minha missão com todas as adversidades, apesar e por causa delas, tome conta de todo o meu ser. E que reforce em mim a ousadia e a coragem.
Que nada me tire o poder de criar. É só o que peço. O resto eu agradeço larga e profundamente…







Marla de queiroz

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Poesia não serve para entender, ela justamente explica que não precisamos nos entender para viver.


Fabrício Carpinejar

Sempre procurei pessoas inteiras, até que encontrei uma que transborda.

Gostar é não devolver, é se endividar de lembranças.

Sonhos relembram o que precisamos viver.

Reencontro

Eu vim aqui me buscar.
Vim aqui me buscar porque, para onde quer que eu olhasse, eu não me encontrava. Porque sentia uma saudade tão grande que chegava a doer e, embora persistisse em acreditar que ela reclamava de outras ausências, a verdade é que o tempo inteirinho ela falava da minha falta de mim. Vim aqui me buscar porque percebi que estava muito distante e que a prioridade era eu me trazer de volta. Isso, se quisesse experimentar contentamento. Se quisesse criar espaço, depois de tanto aperto. Se quisesse sentir o conforto bom da leveza, depois de tanto peso suportado. Se quisesse crescer no amor.
Vim aqui me buscar, com medo e coragem. Com toda a entrega que me era possível. Com a humildade de quem descobre se conhecer menos do que supunha e com o claro propósito de se conhecer mais. Vim aqui me buscar para varrer entulhos. Passar a limpo alguns rascunhos. Resgatar o viço do olhar. Trocar de bem com a vida. Rir com Deus, outra vez. Vim aqui me buscar para não me contentar com a mesmice. Para dizer minhas flores. Para não me surpreender ao me flagrar feliz. Para ser parecida comigo. Para me sentir em casa, de novo.

Ana Jácomo

E não sentir falta de nada...




Nada a esperar. Nada a buscar. Nenhum lugar onde ir. Eu me sinto sentada sob a sombra de uma árvore generosa, numa tarde azul sem pressa, os pássaros bordando o céu com o seu balé harmonioso. O meu coração é pleno, nenhuma fome. Plenitude não é extensão nem permanência: é quando a vida cabe no instante presente, sem aperto, e a gente desfruta o conforto de não sentir falta de nada.

O tempo tem uma habilidade singular para reinventar nosso roteiro com a gente, toda vez que redefinimos o que, de verdade, nos importa.

A gente se refaz



Nunca esqueci a experiência de quando alguém botou a mão no meu ombro de criança e disse: - Fica quietinha um momento só, escuta a chuva chegando. E ela chegou: intensa e lenta, tornando tudo singularmente novo. A quietude pode ser como essa chuva: nela a gente se refaz para voltar mais inteiro ao convívio, às tantas frases, às tarefas, aos amores. Então, por favor, dêem isto: um pouco de silêncio bom para que eu escute o vento nas folhas, a chuva nas lajes, e tudo o que fala muito para além das palavras de todos os textos e da música de todos os sentimentos.


Lya Luft

Dezembro

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Alguns raros domingos tem cara de começo.

(…)  e se ela lembrava que tinha sido posta para fora da aula de  introdução à metafísica depois de dizer que estava mergulhada na fissura  ôntica, o nome científico da fossa, e ela lembrava sim.
Aconteceu na praça XV, in: Pedras de Calcutá

A fidelidade não é uma escolha e nem um sacrifício, ela é uma verdade.

Ela vem pra gritar aquilo que seu coração sussurrou

Não deixe que esse tipo de comentário, mesquinho e destrutivo, bloqueie a sua criatividade. 
(Carta a Bruna Lombardi - 16 de fevereiro de 1981) 
Porque a angústia, meu amor, é essa tristeza sem rosto, sem acontecimento, sem desencadeador, sem réu. É de repente não caber em lugar algum e escrever esse amontoado de palavras magoadas com ninguém. Essa angústia a gente não puxa, não escolhe, ela entra na gente assim como a noite caindo lenta e definitiva. E ela aperta teu peito com toda disposição do mundo. Angústia te tira do mundo de fora, te deixa encolhido olhando pra dentro, porque não se pode apontar o dedo e nem colocar a culpa em ninguém, ela simplesmente é esse mal-estar que te faz querer mudar tudo de lugar e se fazer alguns ajustes. Você não vai conseguir sequer fingir que está bem se ela te abraçar. Angústia te deixa enfastiado com a própria rotina, com o seu jeito antigo de conduzir as coisas. Ela te pede morte e renovação. Ela te impõe uma perda irremediável do que você era antes, ela te força a trocar de pele como se você tivesse tomado muito sol …sem proteção. O que a angústia quer de você é a desaceleração pra parar e contemplar e agir de acordo com o que pede a tua sede de alma…
Toma um café, que o mundo acabou faz tempo.
 Carta a Jacqueline Cantore, vila de Santa Teresa, 2O.O5.83 


Eu passeio por tua estrada quando você não está, porque não quero mais vê-lo ou tocá-lo. Eu passeio por tua casa quando você não está,mas não vasculho tuas gavetas, teus segredos, a intimidade repousada no silêncio dos teus bolsos, dos armários: contemplo os móveis, os livros, os discos e tudo o que está exposto__só quero a experiência. Eu passeio por tuas coisas quando você não está, pra aprender com tua casa, tua estrada e o teu mundo a suportar a tua ausência.


Marla de Queroz


Para o amor, um banco de praça já basta. Ou ficar na frente de um portão. Ou uma xícara de café. Amor mesmo é um filme de baixo orçamento.
Não podendo ser pássaros, as árvores dão flores. Flores são os pássaros das árvores. Flores são vôos que não conseguiram voar e se cristalizaram em beleza e perfume. Quem dá uma flor a alguém está lhe dando um desejo de voar.
É que essa nossa “profissão” (aspas intencionais & irônicas) de escritor na verdade não tem muitas vantagens objetivas. Até hoje, cinco livros publicados, 34 anos, me debato todos os dias para sobreviver e para não desistir. Nélida Piñon costuma dizer que, de alguma forma, todos os dias alguém bate à nossa porta e nos convida a desistir. Não desistimos de teima quem sabe até meio burra. 
(Carta a Charles Kiefer Sampa, 16 de novembro de 1982.)


Alguns escrevem pela arte, pela linguagem, pela literatura. Esses, sim, são os bons. Eu só escrevo para fazer afagos. E porque eu tinha de encontrar um jeito de alongar os braços. E estreitar distâncias. E encontrar os pássaros: há muitas distâncias em mim (e uma enorme timidez). Uns escrevem grandes obras. Eu só escrevo bilhetes para escondê-los, com todo cuidado, embaixo das portas.

Uma palavra inventada

Também porque aconteceu outra coisa que, como Deus, eu pensava que não existia. Imagino que isso que chamamos de amor. Algo assim. Porque tudo que vivi e senti antes me parece agora bobagem, brincadeira.
Carta a Maria Adelaide Amaral, Rio, 21.09.83



"Amor. Bolinhas de sabão. O som de copos com água. O som das gotas no chão. Um sorriso tímido. A música por trás dos ruídos. Um coração encostado no outro. Um ou dois para sempres. Um avião nas mãos de um menino. Um barquinho de papel. Uma pipa atravessando as nuvens. Uma sementeira de tulipas. Um mingauzinho de aveia. Um par de meias listradas. Dois ou três cata-ventos. Uma palavra inventada. "

Tudo é verbo que me inunda.

Tenho trabalhado tanto, mas penso sempre em você. Mais de tardezinha que de manhã, mais naqueles dias que parecem poeira assentada aos poucos, e com mais força enquanto a noite avança.
(Carta Anônima, in: Pequenas Epifanias)

















"A poesia serve para ser feita e lida. Para embarcar sonhos. Para limpar a língua. Para sacudir o beijo. Para mandar longe a vilania. Como assim não serve para nada? A poesia serve como uma luva, chuva no coração partido, lírio na sombra, completude. Tudo é verbo que me inunda."

domingo, 27 de novembro de 2011

E tudo é natural, basta não teres medos excessivos — trata-se apenas de preservar o azul das tuas asas.

E tudo é natural, basta não teres medos excessivos — trata-se apenas de preservar o azul das tuas asas.
(Uma história de borboletas, in: Pedras de Calcutá)
Existe?, perguntaram. É tão simples, responderam. Mas onde está?, insistiram. Não desista, responderam. Então tá, concordaram. 
(Carta a Jacqueline Cantore, in: Vila de Santa Teresa, 2O.O5.83)


Eu meio perdido em relação às coisas tipo cai-na-real, mas com uma certeza boa & inabalável que tudo-vai-dar-pé.

O amor não é para o teu bico.

No meio da aflição objetiva de sobreviver nesta cidade, neste pais neste planeta, neste tempo — ando também bastante sereno. Acho. Alguma coisa em mim — e pode-se chamar isso de “amadurecimento” ou “encaretamento” ou até mesmo “desilusão” ou “emburrecimento” — simplesmente andou, entendeu? Desisti de achar que o príncipe vai achar o sapatinho (ou sapatão) que perdi nas escadarias. Não sinto mais impulsos amorosos. Posso sentir impulsos afetivos, ou eróticos — mas amorosos, sinceramente, há muito tempo. É estranho, e não me parece falso, mas ao contrário: normal. Era assim que deveria ter sido desde sempre. E não se trata de evitar a dor, é que esse tipo de dor é inútil, é burra, é apego à matéria.   Sei lá. E não sei se me explico bem.
(Caio Fernando Abreu. Carta a Maria Lídia Magliani)




A solidão às vezes é tão nítida como uma companhia. Vou me adequando, vou me amoldando. Nem sempre é horrível. As vezes é até bem mansinha. Mas sinto tão estranhamente que amor acabou. [.. .] Repito sempre: sossega, sossega — o amor não é para o teu bico.

(Caio Fernando Abreu. Carta a Jacqueline Cantore)

Escurecido pela tua ausência

Tô bem assim, bem indiferente. O coração, um cactus. Não me importo mais. 
(Caio Fernando Abreu. Carta a Maria Lídia Magliani)


(…) e choro sempre quando os dias terminam porque sei que não nos procuraremos pelas noites, quando o meu perigo  aumenta e sem me conter te assaltaria feito um vampiro faminto para te sangrar e te deixar mudo, sem nenhuma história a te esconder de mim, enquanto meus dentes penetrando nas veias da tua garganta arrancassem do fundo essa vida que me negas delicadamente, de cada vez que me procuras e me tomas, contudo me enveneno mais quando não vens e ninguém então me sabe parado feito velho num resto de sol de agosto, escurecido pela tua ausência (…)


(Caio Fernando Abreu. À beira do mar aberto, in: Os dragões não conhecem o paraíso)

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Mantenha a sinceridade no fundo de seu coração.

É tolo chafurdar em pântanos de depressão com pouco mais de 20 anos, você não acha?
(Carta a Luciano Alabarse. SP 02.08.90)



São incontroláveis os sonhos de agosto: se bons deixam a vontade impossível de morar neles; se maus, fica a suspeita de sinistros augúrios, premonições.

Mas os escritores são muito cruéis, você me ama pelo que me mata com coca-cola no boteco da esquina, e a vida acontecendo em volta, escrota e nua.

Cada vez gosto mais da luz, cada vez acho a alegria, o prazer, mais importantes.


quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Eu não sou o que escrevo ou sim, mas de muitos jeitos. Alguns estranhos.

O escritor é uma das criaturas mais neuróticas que existem: ele não sabe viver ao vivo, ele vive através de reflexos, espelhos, imagens, palavras. O não-real, o não-palpável. Você me dizia “que diferença entre você e um livro seu”. Eu não sou o que escrevo ou sim, mas de muitos jeitos. Alguns estranhos. 
(Caio Fernando Abreu. Carta a Sérgio Keuchgerian)
Mas Deus, lá em cima, está vendo tudo. O problema é que Ele esqueceu de pôr os óculos. 
(Caio Fernando Abreu. Carta a Jacqueline Cantore)

MAS ACHO QUE É BESTEIRA FICAR TENTANDO DESVENDAR O FUTURO — APESAR DO TAROT E DO I CHING.

Sei lá, menina, tá tudo tão legal — e um legal tão batalhado, um legal merecido, de costas e pernas doendo, mas coração tranqüilo.
(Caio Fernando Abreu. Carta a Vera Antoun)








É verdade que estou morrendo de medo do amor que você sente por mim. Mas não é só isso. Também ando com muito medo das pessoas todas. Eu sei disso.

(Caio Fernando Abreu. Carta a Vera Antoun)



Meu coração é um sorvete colorido de todas as cores, é saboroso de todos os sabores. Quem dele provar, será feliz para sempre.

(Caio Fernando Abreu. Na terra do coração, in: Pequenas Epifanias)

E FUI CUIDAR DO QUE RESTAVA, QUE É SEMPRE O QUE SE DEVE FAZER.


Às vezes eu penso em desistir, eu acho que não agüento essa aprendizagem toda outra vez — fico tentado a desistir. Não sei bem por que insisto, posso dizer apenas frases feitas sobre isso, mas na verdade não sei.

sábado, 12 de novembro de 2011

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

"Meus pés iriam com flores andar sobre o teu silêncio."

Tempo



"Como fruta colhida ainda verde ou uma flor cortada antes de se abrir, as nossas tentativas de apressar o tempo de Deus podem estragar a beleza de Seu plano para a nossa vida. Só porque algo é bom, não quer dizer que devemos buscá-lo neste exato momento. Temos que nos lembrar que a coisa certa no tempo errado é a coisa errada."

(Joshua Harris)
"...Bem sei que há um desencontro leve entre as coisas, elas quase se chocam, há desencontro entre os seres que se perdem uns aos outros entre palavras que quase não dizem mais nada ...


 [Clarice Lispector]"