The Black Baloon


segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Eu posso ainda às vezes mentir para os outros. Mas para mim mesmo acabou-se a minha inocência

E acontece que eu ainda sou babaca, pateta e ridícula o suficiente para estar procurando O Verdadeiro Amor. Pára de rir, senão te jogo já este copo na cara.
(Dama da noite, in.: Os Dragões Não Conhecem o Paraíso) 

As pessoas têm que se permitir

Sabe o que eu sinto? Tem duas coisas me puxando, dois tipos de vida — e eu não quero nenhum deles. Quero um terceiro, o meu. Que ninguém tá curtindo. (…) E eu não tô querendo viver como eles vivem — não tô conseguindo viver como eu gostaria — e não tenho coragem de ficar sozinho e tentar, você me entende? Acho que não.

(Caio Fernando Abreu. Carta a Vera Antoun)

Quando foi a última vez que você tomou banho de chuva sem se preocupar com o celular no bolso, os cartões do banco, a chapinha, o sapato que não pode molhar? As pessoas têm que se permitir. Aprender o atraso, o olhar em volta. Mudar o caminho de todos os dias e se perder no seu próprio bairro. É o que tenho feito, me perder. E devo dizer que estou muito feliz por não encontrar o caminho de volta.
— Verônica H.

 Amores platônicos, incertezas, angústias, vontades de parar de andar enquanto estou atravessando a rua, medos de me jogar sem querer do viaduto… Muito mexicana essa minha vida, muita intensidade, muito momento, sobra pouco pra amanhã. O que vem depois só me interessa depois

Sou tão talvez neuroticamente individualista que, quando acontece de alguém parecer aos meus olhos uma ameaça a essa individualidade, fico imediatamente cheio de espinhos — e corto relacionamentos com a maior frieza, às vezes firo, sou agressivo e tal. É preciso acabar com esse medo de ser tocado lá no fundo. Ou é preciso que alguém me toque profundamente para acabar com isso. Tenho medo de já ter perdido muito tempo. Tenho medo que seja cada vez mais difícil. Tenho medo de endurecer, de me fechar, de me encarapaçar dentro duma solidão-escudo.
(Caio Fernando Abreu. Carta a Vera Antoun)

terça-feira, 30 de julho de 2013

"A verdade, o que realmente importa mora dentro de mim, longe do binóculo alheio. O resto é cena, ego, poeira."




"Li em algum lugar que há uma regra de decoração que merece ser obedecida: para onde quer que se olhe, deve haver algo que nos faça feliz."
- Martha Medeiros.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Talvez o mundo lhe pareça um lugar cheio de estradas erradas.

Nossa percepção da vida é influenciada por muitas variáveis, todas plausíveis. O reparo de nossa alma parece um trabalho eterno, sempre algo está fora do lugar. Mas não acredito que seja defeito de fabricação nascer assim “sem lugar”. Não falo de casa, cidade ou país. Falo de um lar para nossos sentimentos, desejos, sonhos, enfim, nosso ser. Ser é uma responsabilidade muito grande, mas não além da capacidade humana. Ser envolve escolhas, princípios e uma reconstrução constante de si perante a vida. Essa busca leva muitos ao desespero, mas esta busca leva. Fluir e fruir por este mundo é fundamental e as aflições de nossa alma é o que nos move. Algo que te mantém vivo, te mantém ansioso do futuro, não pode ser de todo mal. É que dói, eu sei, dói. Precisamos de um lugar que abrigue este nosso ser. Para alguns é a liberdade, para outros ainda que não pareça é a solidão, mas para todos em algum momento é a companhia.
Zilhões de variáveis e eu venho repetir-me sobre a necessidade de se encontrar em outro. Mas não confunda com Amor, pois este é peça. A verdade é que em meio a essa lapidação do que se é, precisamos de descanso. Acredite, não há férias dentro do seu próprio corpo. Há muitas ruas sem saída, muitos sentimentos sem resposta, muita melancolia se misturando com os sonhos, muita mesmice no horizonte. Precisamos de outro que enxergue alguma vírgula diferente, algum alívio para todo universo que carregamos em nós. Precisamos renovar as forças de nossos ideais e rearranjar a harmonia da nossa paz. A construção desse lar é muito gratificante para se deixar pelos caminhos. Plenamente ser é incrível. Tudo que se precisa para continuar é um outro, é um corpo para descansar a alma.
Talvez o mundo lhe pareça um lugar possível, todos os dias.

Danilo Martinho

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Sua embalagem prometia muito mais do que o produto realmente é





Desculpa minha maneira de dizer, assim, sem qualquer introdução ou motivo, mas você não mente bem. […]
Se dependesse de você, ficaríamos eternamente nos encarando sem chegar em lugar nenhum. Você se tornou o desafio perfeito e, confesso, sua embalagem prometia muito mais do que o produto realmente é. Fui eu quem cuidei da parte da atitude, da conversa, do momento certo. Acho muito cansativo ser responsável por tudo, então eu desisto de tentar te fazer humano. Pode seguir com sua falta de falta de vida, cheio de pose e frases prontas.
Não vou passar dias te observando só porque você é lindo calado, não vou deixar você me cercar a noite toda e depois ir embora só porque dessa vez eu não devolvi o olhar e você ficou sem saber o que fazer. Você não sabe conversar e eu sou um poço infinito de palavras, jogadas na sua cara, mostrando que a falta de conteúdo pode sim te afetar. Era muito fácil com aquelas garotas, não? Um pouco de álcool, o que você faz da vida, vamos fugir de todo mundo. Mas e alguém de corpo e alma? Aí você desiste, porque no dia seguinte não tem mais o que falar. […]
Falta em você algum brilho, alguma individualidade, algo que te faça especial. Em mim esse brilho sobra e eu saio por aí espalhando, como se fosse bonito se perder em todo mundo só porque meu corpo não é suficiente pra me abrigar.





 Verônica H.

O que sentimos vibra além dos papéis, das afinidades, da roupa de gente que usam



“Algumas pessoas se destacam para nós (…) Não importa quando as encontramos no nosso caminho. Parece que estão na nossa vida desde sempre e que mesmo depois dela permanecerão conosco. É tão rico compartilhar a jornada com elas que nos surpreende lembrar de que houve um tempo em que ainda não sabíamos que existiam. É até possível que tenhamos sentido saudade mesmo antes de conhecê-las. O que sentimos vibra além dos papéis, das afinidades, da roupa de gente que usam. Transcende a forma. Remete à essência. Toca o que a gente não vê. O que não passa. O que é (…) Com elas, o coração da gente descansa. Nós nos sentimos em casa, descalços, vestidos de nós mesmos. O afeto flui com facilidade rara. Somos aceitos, amados, bem-vindos, quando o tempo é de sol e quando o tempo é de chuva. Na expressão das nossas virtudes e na revelação das nossas limitações. Com elas, experimentamos mais nitidamente a dádiva da troca nesse longo caminho de aprendizado do amor. “




- Ana Jácomo



Porque amor é justamente isso, é ficar inseguro, é ter aquele medo de perder a pessoa todo dia, é ter medo de se perder todo dia. É você se ver mergulhado, enredado, em algo que você não tem mais controle…



Fabrício Carpinejar

O Tempo estava certo.

(Dizem que a Primavera chega trocando a roupa da paisagem). E no auge da sua descrença o dia amanheceu de novo. Quando não queria mais fugir de si mesma, foi surpreendida por uma voz de timbre limpo, olhos atenciosos e mãos que diziam coisas. Era alguém que tranqüilizava quando apenas sorria. Uma pessoa que trazia em si o amparo de tudo. Tinha o dom da conveniência e da clareza e pronunciava reciprocidade.
O fato resumindo é que o amor não era mais aquele estardalhaço. O amor era suave e tinha um jeito de penetrar sem invadir, de libertar no abraço. O amor não era mais aquela insônia, mas sonho bom na entrega ao desconhecido. O amor não era mais a iminência de um conflito, mas uma confiança na vida. E, pela primeira vez, o amor não carregava resquícios de abandono, pois havia descoberto: o amor estava ali porque ambos estavam prontos.
(O Tempo estava certo.)
 - 











Marla de Queiroz
 

A vida é um pêndulo entre suspirar e respirar fundo

Nosso drama é que às vezes a gente joga fora o certo e recolhe o errado. Da acomodação brotam fantasmas que tomam a si as decisões.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Deixe o outono passar. Deixe o inverno ser. Os nasceres ainda hão de nos levar até as flores.


Maktub - Paulo Coelho

 "Se você tiver de chorar, chore como as crianças. Você foi criança um dia, e uma das primeiras coisas que aprendeu em sua vida foi chorar; porque faz parte da sua vida. Jamais esqueça que você é livre, e que demonstrar emoções não é uma vergonha.
     Grite, soluce alto, faça barulho se tiver vontade - porque assim choram as crianças, e elas sabem a maneira rápida de sossegar seus corações.
     Você já reparou como as crianças param de chorar? Alguma cosia as distrai, algo chama a atenção delas para uma nova aventura.
     As crianças param de chorar muito rápido.
     Assim será também com você - mas apenas se chorar como chora uma criança."

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Fui tanta solidão que até achei que podia preenchê-la somente com desejos dos outros.




Não encontrei respostas em festa, não vi propósitos em namoricos de uma noite, não sabia nem de quem gostar. Não tive beijos roubados em corredores de escola, no quintal ou nos fundos do prédio. (…) Não existiu ninguém disposto a viver o romance que um dia eu sonhei. Buscava algo maior do que podia, talvez, mas era o que queria. Querer amar assustou muita gente, compadeceu algumas outras, e conquistou raras. (…)
Fui tanta solidão que até achei que podia preenchê-la somente com desejos dos outros. (…)
A verdade é que nesses anos foi a solidão que me fez grande. Foi ela que me ensinou a distinguir o que chamava de amor, foi ela que me ensinou que era impossível fugir do que se sente, foi ela que me levou cada sofrimento distante de quem jamais me escutou, ou viveu ao meu lado. Foi ela que compartilhou os silêncios mais doídos longe dos amigos. Foi ela que me manteve aqui vivo por um romance. Só vejo isso hoje que finalmente amo em reciprocidade, que finalmente completei o vazio que criei tanto tempo atrás.
Por isso pinto este quadro. Para que os que passem por aqui saibam que a solidão não é eterna, é companhia até a felicidade chegar.
Danilo M. Martinho