The Black Baloon


segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

O mundo não tem ordem visível e eu só tenho a ordem da respiração. Deixo-me acontecer.

Toma um café, que o mundo acabou faz tempo.
 Carta a Jacqueline Cantore, vila de Santa Teresa, 2O.O5.83 
Sei que é complicado, mas contar falsifica, é isso que quero dizer — e pensando mais longe, por isso mesmo literatura é sempre fraude. Quanto mais não-dita, melhor a paixão.
(A cidade dos entretons, in: Pequenas Epifanias)


Aquele momento em que tudo em mim é a certeza de um sorriso seu colado ao meu rosto e que tudo em você é a certeza do meu mais definitivo e sonoro SIM! A previsão é que tenhamos no amor essa certeza: de um abrigo de paz, desse aconchego sem fim.







Com o baú da memória absolutamente repleto e o coração sabendo mil coisas de tudo. Ando apaixonado por viver, com tudo que isso implica, e espantado pela Passagem do Tempo.




C.F
Estou cada vez mais bossa-nova, espiritualmente sentado num banquinho, com o violão no colo. Deus, como eu quero paz.






nanehroots16: labiomordido: (via fuckyeahhlove)
“Tenho amor incondicional pelas pessoas que entram em minha vida e sinceramente, não sei o quanto isso é bom nos dias atuais. Talvez esse seja meu pior defeito.”
—  Cazuza
Não consigo ser verdadeiro o tempo todo. Mas você me saca, eu sei. 
(Caio Fernando Abreu. Carta a Vera Antoun)


Ele carrega a minha palavra mais preciosa e um ponto final elegante. Completa os sentidos que deixei pelo caminho, refaz meus passos por tudo que aprendi, abre os braços para tudo que não sei. (…) Ele é muito natural, mistura estrelas e flores com sentimentos. (…) É um horizonte preenchido, uma paz conquistada, uma rima com o “você”


Danilo M. Martinho

O coração é involuntário, o resto é escolha.

E poder apagar as luzes sem medo.. porque o sol interno está aceso.

De outra vez vi Deus, era um menino que me dizia para não perder a infância, que a infância era Deus.
(Caio Fernando Abreu, carta a Vera Antoun)

A alegria está me dando mole enquanto a felicidade me agarra.. Elas que se resolvam.

Aprendi a gostar de viver e ser feliz.
(Caio Fernando Abreu, carta a Vera Antoun)

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

De repente teve certeza: ela também  estava mentindo. Pensou em perguntar, mas a certeza foi tanta que não era  preciso. Além disso, a desconfiança de que uma pergunta assim fizesse  desabar — o quê?
(Joãozinho & Mariazinha, In: Pedras de Calcutá)




Quem é apaixonado larga tudo, assume os riscos, salta no escuro, não deixa ninguém do outro lado da linha esperando. O apaixonado sofre para não provocar sofrimento, sofre no lugar de quem ama. E arruma explicações para ir, de modo nenhum para não ir.


Fabrício Carpinejar 

Nunca esqueci a experiência

Tinha vontade de vomitar, e não vomitava. Vontade de gritar e não gritava. Gentil, amável, tolerante e sem sexo, os patins dominando a lisa passarela, em gestos graciosos como os de um trapezista após o salto, mas nunca mortal a ponto de qualquer queda não ser prevista ou amparada por uma sólida rede de amenidades, e a grande merda, e o indisfarçável medo emboscado nas paredes do apartamento, e os inúteis cuidados, e a cama vazia no fundo do quarto, os dedos ansiosos, o ruído dos carros filtrado pelas paredes, a campainha em silêncio, algum livro e depois o poço viscoso. Algum cigarro, nenhum ombro, alguma insônia, nenhum toque, um último acorde de violino, e depois o sono, e depois.
(Pedras de Calcutá, in: Pedras de Calcutá)
Nunca esqueci a experiência de quando alguém botou a mão no meu ombro de criança e disse: - Fica quietinha um momento só, escuta a chuva chegando. E ela chegou: intensa e lenta, tornando tudo singularmente novo. A quietude pode ser como essa chuva: nela a gente se refaz para voltar mais inteiro ao convívio, às tantas frases, às tarefas, aos amores. Então, por favor, dêem isto: um pouco de silêncio bom para que eu escute o vento nas folhas, a chuva nas lajes, e tudo o que fala muito para além das palavras de todos os textos e da música de todos os sentimentos




Lya Luft

Não há movimento que se assemelhe àquele que nasce de um coração contente.

Meu problema maior é minha própria moral — ou a que adquiri através da educação, da sociedade, não importa. Meu problema é que tenho dentro de mim, muito claros, os conceitos de “moral” e “imoral”. E que cada “imoralidade” que cometo me deixa um saldo enorme de culpa, de amargura, de sofrimento.
(Carta a Luciano Alabarse. Sampa, 1º de agosto de 1984)


Chega um momento, depois de algum caminho percorrido, em que a gente pode até considerar que avançou menos do que supunha, mas entende ter avançado o máximo que conseguiu até então. E a gente agradece, com gentileza e compaixão por todos os caminhantes, porque somente quem caminha sabe o valor, o tamanho, a conquista, de que é feita a história de cada único passo. Há quem pare no meio da estrada e se enrede no suposto cansaço que mente o medo de prosseguir. Há quem corra tão freneticamente de si mesmo que nem percebe a paisagem ao seu redor. Há quem pareça recuar dois passos para cada um alcançado. No fim das contas, todos avançam, de uma forma ou de outra, ainda que, aos próprios olhos e aos alheios, o avanço seja imperceptível. E, nos trechos da jornada em que já é possível caminhar com mais atenção, respirando os sentimentos singulares de cada passo, a gente percebe que não há exatamente um lugar onde chegar. Nós somos o lugar. A gente percebe que pode aprender a relaxar e a usufruir também da viagem e que essa é forma mais hábil e generosa de avanço. Não há movimento que se assemelhe àquele que nasce de um coração contente.




Ana Jacomo
Porque ver é permitido, mas sentir já é perigoso. Sentir aos poucos vai exigindo uma série de coisas outras, até o momento em que não se pode mais prescindir do que foi simples constatação.
(Caio Fernando Abreu. Os cavalos brancos de Napoleão, in: Inventário do ir-remediável)
Toda pessoa sempre é as marcas das lições diárias de outras tantas pessoas. E é tão bonito quando a gente entende que a gente é tanta gente onde quer que a gente vá. É tão bonito quando a gente sente que nunca está sozinho por mais que pense que está.




Gonzaqguinha
Eu me volto pras palavras e venero seus encantos, como se por me descreverem pudessem me bastar. Palavra não faz carinho, menina, palavra não dá colo. É de abraço que eu preciso quando não há mais letra, tatuagem, tinta, papel, caneta, poesia. Quando não tem mais rima, é de corpo e conforto que eu preciso.




Verônica H

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Chorar de compreensão meio estúpida pela perdição humana, pela nossa fragmentação, pelas nossas tentativas freqüentemente tão inábeis, mas tão sinceras também, de “acertar”, de fazer as coisas “do melhor jeito”;
(Carta a Adelaide Amaral. Sampa, 29 de outubro de 1984)
Mas não sinta solidão, não sinta nada: você só tem olhos que olham o momento presente, esteja - ou você - onde estiver. E não dói, não há nada que provoque dor nesse olhar.

Liberdade na vida é ter uma amor para se prender.

(…) que te olho detalhado, e nunca saberás quanto e como já conheço cada milímetro da tua pele, esses vincos cada vez mais fundos circundando as sobrancelhas que se erguem súbitas para depois diluírem-se em pêlos cada vez mais ralos, até a região onde os raspas quase sempre mal, e conheço também esses tocos de pelos duros e secretos, escondidos sob teu lábio inferior, levemente partido ao meio, e tão dissimulado te espio que nunca me percebes assim, te devassando como se através de cada fiapo, de cada poro, pudesse chegar a esse mais de dentro que me escondes sutil, obstinado, através de histórias como essa, do mar, das velhas tias, das iniciações, dos exílios, das prisões, das cicatrizes, e em tudo que me contas pensando, suponho, que é teu jeito de dar-se a mim, percebo farpado que te escondes ainda mais, como se te contando a mim negasse que deliberado a possibilidade de te descobrir atrás e além de tudo que me dizes, é por isso que me escondo dessas tuas histórias que me enredam cada vez mais no que não és tu, mas o que foste, (..)
(À beira do mar aberto, in: Os dragões não conhecem o paraíso)

E lembro tão bem que ainda que não tivesse sido ontem, continuaria sendo ontem na memória. (…) era tão bonito quando ele tocava violão cantando aquela música..

(…) mas volto e volto sempre, então me invades outra vez com o mesmo jogo e embora supondo conhecer as regras, me  deixo tomar inteiro por tuas estranhas liturgias, a compactuar com teus medos que não decifro, a aceitá-los como um cão faminto aceita um osso descarnado, essas migalhas que me vais jogando entre as palavras e os pratos vazios, torno sempre a voltar, talvez penalizado do teu olho que não se debruça sobre nenhum outro assim como sobre o meu, temendo a faca, a pedra, o gume das tuas histórias longas, das tuas memórias tristes, cheias de corredores mofados, donzelas velhas trancadas em seus quartos, balcões abertos sobre ruazinhas onde  moças solteiras secam o cabelo, exibindo os peitos, tornarei sempre a voltar porque preciso desse osso, dos farelos que me têm alimentado ao longo deste tempo (…)
(À beira do mar aberto, in: Os Dragões Não Conhecem O Paraíso)

Que não me doa hoje o existir dos outros



Penso nele, sim, penso nele. Mas não vou ceder. Certo, certo: ninguém tem obrigação de satisfazer ao teu desejo, pela simples razão de que você supõe que teu desejo seja absoluto. Foda-se seu desejo, ora. 
(Carta a Jacqueline Cantore. Sampa, 18 de abril de 1985)
Este vazio de amor todos os dias: a cabeça pesada ao meio-dia, a boca amarga, um cheiro de sono e solidão nos cabelos (…)
Mas hoje. Hoje não. É impossível perdoar no meio destas máquinas histéricas e destas pessoas que tão pouco sabem de si destas calças desbotadas do feltro verde do jornal mural das vozes que passam misturando marchas de carnaval john lennon e carlos gardel é impossível sofrer entre os telefones que gritam e o suor que escorre e as laudas numeradas e as pilhas de jornais e livros e a porta que vezenquando abre libertando vanderléias comerciais e meninos de roupas coloridas e ar desvairado.
E hoje não. Que não me doa hoje o existir dos outros, que não me doa hoje pensar nessa coisa puída de todos os dias, que não me comovam os olhos alheios e a infinita pobreza dos gestos com que cada um tenta salvar o outro deste barco furado. Que eu mergulhe no roxo deste vazio de amor de hoje e sempre e suporte o sol das cinco horas posteriores, e posteriores, e posteriores ainda


C.F



Lentamente falas, e lentamente calo, e lentamente aceito, e lentamente quebro, e lentamente falho, e lentamente caio cada vez mais fundo e já não consigo voltar à tona porque a mão que me estendes ao invés de me emergir me afunda mais e mais enquanto dizes e contas e repetes essas histórias longas, essas histórias tristes, essas histórias loucas como esta que acabaria aqui, agora, assim, se outra vez não viesses e me cegasses e me afogasses nesse mar aberto que nós sabemos que não acaba assim nem agora nem aqui.




Os dragões não conhecem o paraíso - Caio Fernando Abreu





"Coisas belas, coisas feias: o bom é que passam, passam, passam. Deixa passar."





Dane-se. Comigo sempre foi tudo ao contrário.

E lembro daquela história zen, o rei que pediu ao monge um talismã que o protegesse de qualquer mal. O monge deu ao rei um anel, com a recomendação de abri-lo só em caso de extremo perigo. Um dia, o castelo foi cercado pelos inimigos, e o rei encurralado numa torre. Ele abriu o anel. Dentro, havia um papelzinho dobrado. Ele abriu o papelzinho e leu uma frase assim: “Isto também passará”. 
(Carta a Sérgio Keuchgerian. Na cidade alagada, 27 de janeiro de 1987)

Às vezes, a gente nem precisa mesmo de palavras.

E se não quisermos, não pudermos, não soubermos, com palavras, nos dizer um pouco um para o outro, senta ao meu lado assim mesmo. Deixa os nossos olhos se encontrarem vez ou outra até nascer aquele sorriso bom que acontece quando a vida da gente se sente olhada com amor. Senta apenas ao meu lado e deixa o meu silêncio conversar com o seu. Às vezes, a gente nem precisa mesmo de palavras.
   Ana Jácomo


 - depois que Ana me deixou, como eu ia dizendo, dei para beber, como é de praxe.
(Sem Ana, Blues. In: Os Dragões Não Conhecem O Paraíso)
onomedosilencio: passaros: turnonyoursmile: morangosmofados: itsnotthateasy: (via mycolorfulworld)
E lembro da primeira vez que eu te vi e te achei meio feio, vesgo, estranho. Até que você me suspendeu no ar por razão nenhuma eu tive certeza que meu filho nasceria um pouco feio, vesgo e estranho.





Meu tempo não se mede em relógios. E a vida lá fora, me chama!"


"Ela também teve seu coração machucado. Dilacerado, imagino. Normal. Desse mal, meu bem, ninguém escapa. Mas o bom disso tudo é que agora consigo abrir meu coração sem rodeios. Sim, amei sem limites. Dei meu coração de bandeja. Sim, sonhei com casinhas, jardins e filhos lindos correndo atrás de mim. Mas tudo está bem agora, eu digo: agora. Houve uma mudança de planos e eu me sinto incrivelmente leve e feliz. Descobri tantas coisas. Tantas, Tantas. Existe tanta coisa mais importante nessa vida que sofrer por amor. Que viver um amor. Tantos amigos. Tantos lugares. Tantas frases e livros e sentidos. Tantas pessoas novas. Indo. Vindo. Tenho só um mundo pela frente. E olhe pra ele. Olhe o mundo! É tão pequeno diante de tudo o que sinto. Sofrer dói. Dói e não é pouco. Mas faz um bem danado depois que passa. Descobri, ou melhor, aceitei: eu nunca vou esquecer o amor da minha vida. Nunca. Mas agora, com sua licença. Não dá mais para ocupar o mesmo espaço. Meu tempo não se mede em relógios. E a vida lá fora, me chama!"


Fernanda Mello

Nossa palavra não é uma certeza



Nossa palavra não é uma certeza, não determina uma verdade se quer. Sua força é repetir-se até não lembrarmos que há alternativas além dela. Nossa fala é a construção de nossas ilusões. Somos particulares e parciais ao olhar o mundo. Dizendo coisas de um amor que desconhecemos o significado; de uma vida que não sabemos o destino; de um humano meramente idealizado. Quem somos nós para dizer alguma coisa?
Somos ninguém. Ainda sim, os únicos capazes de construir qualquer coisa baseado em algo que um dia tenha acreditado. Como a felicidade.